google.com, pub-7850997522645995, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Histórias de Lajeado e Sapopema - Tribuna da Serra

Histórias de Lajeado e Sapopema


Fotos: Anderson CoelhoTalvez o lugar tenha sido passagem da picada Tibagi-São Jerônimo, aberta em 1846, ali surgindo a povoação do Lajeado Liso bem mais tarde, na margem esquerda do rio que lhe empresta o nome. Considerando-se a hipótese, a comunidade é um marco da mudança dos antigos caminhos de mulas para o "rodoviarismo", expressão não dicionarizada, mas que os engenheiros difundiram com o advento das estradas para automotores. 

Num lado da PR-090 está o "bairro" e na ponte sobre o rio a placa referente à inauguração da Estrada do Cerne, em 21 de setembro de 1940, pelo interventor Manoel Ribas. A estrada fez surgir Sapopema, paragem de viajantes cujo crescimento lhe valeu a fama de "Vila do Pito Aceso", ofuscando Lajeado Liso, que ficou à distância do tráfego. 

Com a readequação do traçado e a pavimentação, em 1984, a Rodovia do Cerne (PR-090) passou a ter uma margem no Lajeado. Na outra margem, parcialmente separada por um morro, está Sapopema, a sede do município, efetivado em 28 de outubro de 1961. 

Uma das memórias mais longevas é Jorge Ferreira de Melo, o Jorginho, que passou anos da infância e da adolescência no Lajeado, viu Sapopema crescer e cumpriu dois mandatos de prefeito. "Aqui era a estrada que vinha de Curiúva e eu morava com um tio. Só passava cargueiro", ele recorda, mostrando a estrada de leito natural contornando a banda sul de Lajeado. 

O patrimônio ou distrito é uma paisagem rurbana em que se misturam casas de madeira e edificações de alvenaria, entre estas a igreja católica, no centro, e o Lar Santa Ana, para idosos, inaugurado em 1989. 

Perigo na ponte
Cargueiros eram mulas e burros transportadores e ao mencioná-los, Jorginho indica ter alcançado um remanescente do tropeirismo. De fato, na década de 1930 só era possível chegar em lombo de mula, relatou padre Carlos Probst sobre sua missão no Lajeado Liso, a 25 léguas (150 Km) da sede paroquial, Londrina. 

Em 5 de outubro de 1936, Probst e padre Manuel deixaram o Bairro do Tigre (em São Jerônimo) rumo ao Lajeado, quatro léguas adiante. Debaixo de chuva, "a marcha não rendia, as capas se tornaram pesadas como chumbo, o barro rebocava as botas e o ventre dos animais. Lamúrias nada adiantavam, era preciso fazer cara dura diante do vento frio da serra fria". 

A ponte no rio Lajeado Liso, embora de madeira nova, lhes pareceu "esquisita e perigosa na chuva", por fazer "grande curva, subindo e descendo", sem proteções laterais ("balaústres") e estreita, aproximadamente dois metros. Sem saber qual seria o comportamento de sua "mula nervosa", Probst largou a rédea. "Ela baixou a cabeça e pôs, com todo o cuidado, pé diante de pé em passos curtinhos" enquanto o missionário permanecia "imóvel como uma estátua". 

Feita a travessia, despertou: "Escorregar ou cair era quase morte certa, pois dez metros abaixo o rio formava cachoeiras entre pedras enormes. O burro de padre Manuel seguiu atrás, não vi como". No trecho do rio mencionado encontra-se o Salto das Orquídeas, hoje atração turística. 

Às 16 horas, os missionários entraram na vila, "povoado pequenino, grande praça rodeada de poucas casas". Situa-se, em linha reta, a menos de 20 km da margem direita do rio Tibagi, onde é transposto em canoas na divisa de Sapopema e Ortigueira (margem esquerda). O Lajeado Liso desemboca no Barra Grande, afluente do Tibagi. 

Segundo Jorge Ferreira, as Fazendas Rodeio e do Adame e as pequenas vizinhanças do Mambuca e Passo do Arruda são referências antigas ao redor de Lajeado Liso, talvez influentes na formação do patrimônio. Falta certificar a sua anterioridade, mas quando houve a promoção da Vila de São Roque (mais tarde Tamarana) a distrito judiciário de Tibagi, em 1930, a família do escrivão nomeado para o cartório, Arlindo Araújo, já morava no Lajeado Liso. 


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