Em uma década, extrema pobreza caiu 63% no País
A geladeira da recicladora Rita de Cássia de Souza, de 44 anos, já está cheia para a ceia de Ano Novo. Em uma casa simples na Vila Marízia, no extremo norte da região central de Londrina, ela vai receber seis filhos e sete netos para comemorar a chegada de 2016. Rita se lembra que até pouco tempo atrás, nem tudo era festa. Há pouco mais de uma década, o pouco que tinha para comer vinha de esmolas que os filhos ganhavam nos semáforos no centro da cidade.
A família de Rita de Cássia faz parte dos brasileiros que conseguiram abandonar a situação de extrema pobreza na última década. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2004 e 2014, a taxa de pobreza extrema no Brasil teve uma queda de 63% quando se consideram as pessoas que vivem com até R$ 70 por mês e um recuo de 68,5% na linha de até R$ 77 mensais. Esse índice teve uma redução média de 10% ao ano.
Em 2004, a extrema pobreza abrangia 6,70% da população, sendo que o índice medido em 2014 caiu para 2,48%. O estudo "PNAD 2014 – Breves Análises", divulgado ontem pelo Ipea, mostra que entre 2013 e 2014, a taxa de pobreza extrema caiu 29,8%, uma redução importante cujas causas estão associadas, segundo o autor, à permanência do aumento da renda e redução das desigualdades. A análise tem base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entre os motivos apontados pela recicladora que a fizeram a abandonar a extrema pobreza, ela cita dois: o Bolsa Família e o trabalho na cooperativa. "Chegaram a desligar a água da minha casa. Graças ao benefício consegui pedir o religamento na Sanepar. O próximo passo foi conseguir um emprego", lembrou. Hoje ela está estabilizada em uma cooperativa de recicladores na vila onde mora. O barraco onde morava deu lugar a uma casa equipada com móveis e eletrodomésticos.
O novo ano vai marcar uma nova fase na vida de Rita de Cássia. Com maior faixa de renda e os filhos deixando a idade escolar, ela deixa de receber o benefício do governo federal. "Esse ano foi difícil, mas consegui me firmar. Quero agora que esse dinheiro do Bolsa Família ajude outras pessoas que estão em uma situação pior que a minha", comenta. "Quem critica o programa não sabe do que fala, não sabe que a fome dói", completa.
Segundo o diretor do Departamento de Estudos e Politicas Sociais do Ipea, Rafael Osório, a redução da extrema pobreza está associada à permanência do aumento da renda e redução das desigualdades. "O aumento da renda média conjugado à redução da desigualdade favoreceu a redução da pobreza", concluiu. O autor também cita o incremento dos valores médios despendidos no programa Bolsa Família, a difusão de direitos como o Benefício de Prestação Continuada e o aumento da cobertura previdenciária.
Celso Felizardo
Reportagem LocalFolhaWeb
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