SESSÃO SOLENE ENTREGA TÍTULO DE CIDADÃO HONORÁRIO DO PARANÁ AO PADRE HARUO SASAKI
por Antônio Dilay
A sessão solene para entrega do título de Cidadão Honorário do Estado do Paraná ao Padre Haruo Sasaki aconteceu no início da noite desta terça-feira (06), no Plenário Waldemar Daros da Assembleia Legislativa do Paraná. A proposta do deputado Professor Lemos (PT) através do projeto de Lei nº 702/2021 foi aprovada por unanimidade pelo Plenário da Assembleia em julho de 2022 e estabelecida pela Lei estadual nº 21.132/2022, publicada no Diário Oficial nº. 11.209 de 4 de julho de 2022.
O deputado Professor Lemos (PT) justificou a importância do título honorário: “é uma homenagem que a gente faz de todo coração para um padre japonês que veio ao Brasil em 1958, com 28 anos e atuou no país até os 93 anos. Ele deixa um legado muito importante para o osso país, especialmente no estado do Paraná, onde ele vive até hoje. Em São jerônimo da serra ele foi fundador do Humanitas que atende pessoas com hanseníase e da Casa Familiar Rural. O trabalho dele salvou muitas pessoas, não só neste trabalho da hanseníase, mas com agricultores e pessoas necessitadas, então além de cidadão japonês, agora ele será cidadão honorário do Paraná”.
O cônsul-geral do Japão em Curitiba, Senhor Keiji Hamada comentou que “ é um momento muito feliz esta homenagem por todo trabalho que o Padre Sasaki realizou e isso representa a grande amizade que existe entre o Japão e o estado do Paraná. Para toda comunidade japonesa no Brasil hoje estamos em júbilo por esse reconhecimento”.
O representante do Padre Haruo, senhor Iassuo Curiaki disse que “todo o trabalho realizado pelo Padre Sasaki na pedagogia da alternância não forma apenas técnicos, seu trabalho forma cidadãos completos. Seu grande testemunho de fé sempre foi: quem trabalha pelos pobres, Deus ajuda e isso tem pautado toda a nossa tarefa de manter vivo o trabalho do padre Sasaki”.
A Mesa ficou composta pelo presidente e proponente da sessão solene, deputado Professor Lemos (PT), reverendíssimo Padre Haruo Sasaki, Bispo emérito da Diocese de Cornélio Procópio, Dom Manoel João Francisco; cônsul-geral do Japão em Curitiba, senhor Keiji Hamada; superintendente regional do INCRA no Paraná, senhor Nilton Bezerra Guedes e o diretor da Casa Familiar Rural de Sapopema, senhor Hélio Ferreira Couto.
Perfil do homenageado
O Padre Haruo Sasaki nasceu em Hamamatsu, no Japão, em 05 de janeiro de 1930, filho de Matsujiro Sasaki e Hana Sasaki. Teve uma amarga experiência com a II Guerra Mundial e viu sua cidade natal destruída. Morou em um cômodo com 10 metros quadrados com a sua família de oito pessoas, numa cidade que renascia das cinzas. Foi perseguido pela fé cristã a ponto de ser questionado se a maior divindade era o Imperador do Japão ou o Deus de Sasaki.
Enfrentou essas ameaças e, mesmo assim, ingressou-se para o seminário ordenando-se sacerdote em 27 de dezembro de 1955, em Tóquio. Até então, o seu plano de vida era ajudar a reconstruir o país e escalar as altas montanhas do Japão. Em 1958, perguntado pelo Bispo de Yokohama e a pedido do Arcebispo Dom Geraldo Fernandes, o Brasil precisava de padres para atenderem aos imigrantes japoneses.
Pe. Sasaki, aos 28 anos de idade, sem pensar como seria trabalhar num país distante e desconhecido, disse “sim”. Pe. Sasaki desembarcou em Santos no dia 23 de março de 1958 e trabalhou 12 anos na Arquidiocese de Londrina, sendo transferido para a Diocese de Cornélio Procópio, dedicando ao exercício do sacerdócio, em aprender a língua portuguesa, complementando a sua formação ao cursar Filosofia em Mogi das Cruzes – SP.
A vida de Pe. Sasaki sofre mais uma grande mudança ao visitar a cidade de São Jerônimo da Serra em 1975, e descobrir as centenas de casos de hanseníase, uma doença que trazia muito sofrimento e preconceito. Inconformado com a situação, precisava fazer algo e começou a planejar a Associação Filantrópica Humanitas. Entretanto, com muito receio em começar uma instituição sem ter um diploma e temendo ser confiscado pelas autoridades, fez graduação em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina, aos 45 anos de idade. No segundo ano de faculdade, no dia 8 de setembro de 1977, Pe.Sasaki realizou seu sonho e fundou a Associação Filantrópicas Humanitas, pois os doentes não podiam esperar mais, prestando assistência médica e social gratuita aos hansenianos e seus familiares. Vendeu tudo o que tinha e conseguiu doações inclusive do Japão e dos Estados Unidos. Atualmente, a “Humanitas” como é conhecida, tornou-se referência na área de dermatologia. Desde 1980 contou com o trabalho de religiosas enfermeiras da Congregação do Imaculado Coração de Maria de Nagasaki. Até que, em janeiro de 2017, por decisão de Pe. Sasaki, a “Humanitas” foi transferida e atualmente é administrada pela Associação Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus.
Atualmente, a preocupação de Pe. Sasaki se concentra na Casa Familiar Rural de Sapopema, uma instituição educacional para jovens e filhos de pequenos produtores rurais e indígenas, que busca oportunidade de vida permanecendo na terra. Totalmente destruída após um incêndio, Pe. Sasaki e o esforço da Comunidade, a Casa Familiar Rural foi reconstruída e reinaugurada em 24 de janeiro de 2013. São 85 alunos da região que buscam firmar o conceito da agroecologia e a qualidade dos alimentos, respeitando a natureza e acreditando no projeto de vida no campo. No regime de internato e alternância, os alunos têm aulas teóricas e experiências práticas numa área rural de apenas 2,76 alqueires paulistas. Aos 91 anos de idade, Pe. Sasaki diz “não posso morrer sem que esta obra seja autossustentável”. Uma bela história escondida entre as montanhas da região de São Jerônimo da Serra e Sapopema, onde Pe. Sasaki dedicou a sua vida aos pobres.
Franzino, vestes simples, fala tranquila e sempre sorridente, salvou e deu dignidade para muitas pessoas, e tem a humildade de se questionar se fez tudo por amor ou se há um pouquinho de orgulho no meio de sua obra. Mas, sempre diz, “quem trabalha pelos pobres, Deus sempre ajuda”. Pe. Sasaki nunca abandonou a sua primeira missão que o trouxe para o Brasil, acompanhando as famílias e congregando-as em torno da Pastoral Nipo-brasileira.
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