Indígenas fazem grande protesto em frente ao Aeroporto de Londrina
Cerca de 150 indígenas caingangues e guaranis, representantes de cinco das oito tribos do Norte do Paraná, ocuparam, na tarde de quarta-feira (11), a rua Tenente João Maurício Medeiros, em frente ao Aeroporto Governador José Richa, na zona leste de Londrina. O protesto fez parte da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215. O texto que altera as regras para a demarcação de terras indígenas, de remanescentes de comunidades quilombolas e de reservas florestais, foi aprovado em 27 de outubro, sob fortes críticas de lideranças indígenas.
Os manifestantes se concentraram na Praça Nishinomiya e, por volta das 15h30, seguiram cantando em direção ao aeroporto. Após rápida passagem pelo saguão principal do terminal, eles se concentraram por meia hora na área coberta em frente ao hall de embarque e desembarque. A manifestação do grupo pegou os passageiros de surpresa. Duas delegações de atletas dos Jogos Escolares da Juventude, dos estados de Minas Gerais e Alagoas, estavam no aeroporto na hora do protesto.
Anderson Coelho/Equipe Folha
Alguns passageiros se assustaram, mas logo perceberam que o ato era pacífico e que os arcos e flechas, machadinhas e zarabatanas seriam usados apenas nas danças. "Desde que seja pacífico, o protesto é válido. Eles têm o direito de reivindicar seus direitos", comentou Carlos Viana, da organização do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). A equipe de seguranças da Infraero chegou a fazer intervenções dentro do saguão, orientando os passageiros, mas às 16 horas os indígenas retornaram para a praça em frente ao aeroporto.
De acordo o assessor jurídico do Conselho Indígena Estadual do Paraná (Coinp), Ivan Bribis, a manifestação é em defesa da terra e aos direitos indígenas, mas também prol da natureza. "Se esta PEC que a bancada ruralista defende for aprovada, haverá um desiquilíbrio ecológico. As maiores áreas de preservação das matas são os territórios indígenas", expõe. A PEC prevê que as demarcações serão de responsabilidade do Congresso Nacional e proíbe ampliação de terras indígenas já demarcadas. No entanto, para que as novas regras entrem em vigor, o documento ainda precisa ser aprovado pela Câmara e do Senado, em dois turnos de votação em cada casa.
Segundo Bribis, as comunidades de Apucaraninha (Tamarana), Barão de Antonina (São Jerônimo da Serra), Pinhalzinho (Tomazina), Laranjinha (Santa Amélia) e Porto Velho (Abatiá), além de Queimados e Mococa (Ortigueira), somam cerca de 5 mil pessoas. "Alguns deputados da região Sul do País disseram que aqui só tem índio genérico e que todos apoiam a PEC e defendem a agricultura. Viemos desmentir isso. Só aqui na região, somos 5 mil contra a PEC do genocídio dos povos originários", criticou.
Os indígenas disseram que os protestos devem continuar nos próximos dias, e o movimento deve focar as ações no Fórum Social Mundial, que vai ocorrer em Porto Alegre entre 19 e 23 de janeiro do ano que vem. "Nossa luta já dura 515 anos, não vamos deixar de resistir. Não vamos deixar que alterem as regras de demarcação de nossas terras."
Um grupo de índios também fechou ontem os dois sentidos da BR-277, em São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), em protesto contra a proposta de emenda constitucional 215. A estrada liga Curitiba a Paranaguá e rapidamente um grande congestionamento de veículos se formou. O bloqueio começou às 9h35 e, segundo a assessoria de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), às 13 horas, havia uma fila de seis quilômetros de veículos na pista sentido Paranaguá. Às 12 horas, a PRF conseguiu convencer o grupo, formado por aproximadamente 60 pessoas, a liberar a pista no sentido Curitiba. A situação só foi normalizada por volta das 14 horas.
Celso Felizardo - Equipe Folha (Colaborou Adriana De Cunto)
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